quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Sentir...

Álvaro de Campos Lisbon Revisited (l923)

NÃO: Não quero nada. Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões! A única conclusão é morrer.
Não me tragam estéticas! Não me falem em moral!
Tirem-me daqui a metafísica! Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) - Das ciências, das artes, da civilização moderna!
Que mal fiz eu aos deuses todos?
Se têm a verdade, guardem-na!
Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica. Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo. Com todo o direito a sê-lo, ouviram?
Não me macem, por amor de Deus!
Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável? Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa? Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade. Assim, como sou, tenham paciência! Vão para o diabo sem mim, Ou deixem-me ir sozinho para o diabo! Para que havemos de ir juntos?
Não me peguem no braço! Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho. Já disse que sou sozinho! Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!
Ó céu azul - o mesmo da minha infância - Eterna verdade vazia e perfeita! Ó macio Tejo ancestral e mudo, Pequena verdade onde o céu se reflete! Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje! Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.
Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo... E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Tolerância na Diversidade

Deparei-me com esta notícia no Público: "Mulher sudanesa vista de calças escapa ao chicote", achei por bem reflectir no tema. Aos ocidentais causa tanta estranheza, repúdio e até mesmo incredulidade face a tamanho desatino, usar calças de ganga imagine-se!

As culturas são totalmente diferentes, há que respeitar, não direi se concordo ou não, digo que os julgamentos rápidos e cheios de soberba, não devem fazer parte de uma civilização que se diz superior.

Exagerada a punição, aos nossos olhos sim, habituados que estamos a ver calças de ganga diariamente, um aspecto tão menor do nosso quotidiano não nos toma muito tempo em reflexões. Nós, há muito que separamos o poder temporal do espiritual, cada um na sua esfera de actuação, eles não.

Ser muçulmano é um todo, não faz sentido separar o poder religioso do poder político, das regras que esse Estado tem como base. Contudo não encontrei nenhuma regra específica para o uso de calças de ganga:

Alcorão Verso 33:59
«Ó profeta diz as tuas esposas, tuas filhas e às mulheres dos fiéis que (quando saírem) se cubram com as suas mantas; isto é melhor, de modo que elas possam ser reconhecidas e não molestadas...»


O uso do véu é sugerido, não imposto, a burka é opcional, não é regra, as caças de ganga não figuram neste inventário. Mas chocam, são vestimentas ocidentais, representantes de um modo de estar e de ser diferente e demasiado liberal, para eles.
Tão liberais, que embora não constem do Alcorão, constam das leis pelas quais o país se rege,pena máxima de 40 chicotadas para quem "cometa um acto indecente, viole a moral pública ou vista roupas indecentes". E o que é indecente? As calças de ganga...dizem.

Há um ditado que diz, que em Roma sê romano, logo se à partida conhecemos as regras, e a mulher em causa conhecia, pelo menos assim o diz o jornal, porque afrontamos? Necessidade de mudança? Talvez, mas não é impondo que se ganha esta Jihad.

Lembro-me de há uns anos ter estado em Israel, para entrar na mesquita de Omar(da cúpula dourada) nada de calções curtos ou pseudo saias, deram-me então uma verdadeira saia...e que saia, mais parecida com um saco de sarapilheira!
Tinha duas opções, vestia a saia e entrava , ou não entrava e ficava sem conhecer o interior da mesquita...Vesti a saia e entrei . Tolerância, respeito.

Esta reflexão não é uma identificação com a cultura muçulmana, é apenas um olhar sobre um tema que muito facilmente se acusa e destrata, sem compreender as verdadeiras raízes.

domingo, 6 de setembro de 2009

Tributo aos 900 anos...

Não podia deixar passar esta data em branco, afinal se português escrevo é graças à audácia de um conjunto de circunstâncias que nos fizeram nação. Infelizmente não posso destaca-los a todos, qui ça um dia na minha velhice... Destaco D.Afonso Henriques, 900 anos, isso é que era um bolo repleto de velas!
Emociono-me sempre que falo de personagens que me são caras, D. Afonso é sempre alvo da minha queda para o nacionalismo quando por acaso ou por dever aos programas escolares, gentilmente o encontro.
Da última vez a minha plateia, ficou de sorriso no rosto e com os olhos repletos de desejos de aventuras, das investidas e tropelias deste soberano único. É certo que impressionar criancinhas de 11/12 anos com batalhas e cercos a castelos não parece muito difícil. Não é, o complicado é fazê-los sentir a dimensão da pessoa, ver para lá do guerreiro.



E foi por aí que eu fui, das batalhas , das vitórias e tratados toda a boa enciclopédia tem o dever de explicar, mas do Homem, é preciso tempo, gosto e dedicação para que se entenda e admire. Acho que fui bem sucedida, D. Afonso humano, frágil e sonhador encontrou identificação em cada uma daquelas crianças...


Pode ser que assim, onde quer que ele se encontre, sinta que valeu a pena esperar 76 anos pela independência e deixar mais do que um pedaço de terra, uma mão cheia de sonhos. E foi uma espera repleta de espinhos, a morte do primogénito e a espera pelo amadurecimento de D. Sancho, o desastre de Badajoz e o fim da brilhante carreira militar.

Batalha de São Mamede


Um homem que se apaixonou pela nação que queria fundar, paixão que jamais se apagou. Fora no amor como na guerra e tudo estaria bem, mas Chamõa, o seu primeiro grande amor, não pode singrar no tempo. A ascendência galega, os jogos de bastidores, a política não se compadece com sentimentos.

Quanto ao hipotético estalo que deu a D. Teresa, ao que parece é um erro. Num livro que comprei recentemente "12 erros que mudaram Portugal", este desmente categoricamente essa ignomínia de um filho bater na mãe... Para os mais curiosos aqui fica o blog dos autores:http://www.12erros.com/12-erros-que-mudaram-portugal.html.
A ler com gosto.



Assim faço o meu tributo ao 1º rei de Portugal, que ao que parece andam a tentar resuscitar do Mosteiro de Santa Cruz, ainda não perceberam que a magia destas figuras está no mistério que criam e não nos segredos revelados...

Fugas...


Só passaram 6 dias desde que deixei o paraíso, diga-se as férias, mas já tenho saudades da pacatez do meu lugarejo, daquele céu a perder de vista e do colorido das vistas...

Este recanto tem por nome Tarendo, no concelho de Monção

Vista lá de casa


Sossego só interrompido pela fúria condutora dos nossos queridos emigrantes, mas nada que um leitor de mp3 e uma boa selecção de músicas não resolva. Tive tempo para apanhar amoras, fazer o meu belo puzzle de 1500 peças, dar uma escapadela ao rio...

Rio Minho à vista... sem os aglomerados habituais para a época, sem ter de desejar desesperadamente por uma sombra... Enfim um final de tarde ou um príncipio de dia muito bem passado.

Mas para quem não gosta da época balnear, sempre pode ir passear a Espanha, a 10 minutos de distância, para os mais afoitos caminhar até Santiago de Compostela... dizem que em dois dias se faz o caminho!

Catedral de Santiago de Compostela-Foto retirada da Wikipédia


Não fui tão longe... mas caminhei até ao alto da Senhora de Assunção, romaria obrigatória no 15 de Agosto, vale a pena mesmo não sendo por motivos religiosos. Local historicamente interessante, senão vejamos:

"O Castro da Assunção, no lugar do Castro ou Buraca da Moura, possui três linhas de muralhas, duas completas e uma terceira ainda não completamente delimitada. Tem habitações circulares, com e sem vestíbulos, duas “ruas”, pátios lajeados e outras estruturas proto-urbanas. De entre o espólio encontrado em quatro campanhas de escavações arqueológicas destacam-se a cerâmica, objectos em bronze e em ferro, pedras decoradas, milhares de sementes de várias plantas e gravuras rupestres.

Vista da capela da Nosa Srª da Assunção


À Capela da Senhora da Assunção, situada em lugar aprazível, há quem atribua uma fundação original algures pelo século XII, sucedendo a uma ermida mais humilde. De planta rectangular e forma comunial, com decoração variada, em rosetas, malgas de borco, tudo muito ao gosto do romântico do Alto Minho, à excepção das cabeças de anjos, já de inspiração renascentista. Na verdade, mais parece uma igreja românica, do românico rural alto minhoto. É possível que os artífices estivessem ainda dentro duma tradição românica, embora os desenhos já fossem do gótico final, ou talvez tivessem optado por uma solução mista."


retirado de http://www.valedominho.net/node/274

Sempre a História...et voilá umas férias bem passadas, longe da confusão e da selva citadina!


sábado, 5 de setembro de 2009

Exposição no Museu Nacional de Arte Antiga

Não pretendo, nem tenho a veleidade de que estes rasgos sejam pérolas de literatura... Somente pensar e reflectir sobre aspectos mais ou menos quotidianos. Naturalmente a História aparecerá quase sempre...senão sempre. Senhora dos meus sentidos e dona dos factos, aparecerá aqui e acolá, mesmo quando não é intencional.

Assim como também não se pretende fazer grandes achados, daí o título escolhido para este blog...os mares já estão muito navegados.

Ora pegando neste mote, vem mesmo a calhar o tema dos Descobrimentos, o momento da História que mais sorrisos traz à nação lusa, pelo brilhantismo e pela coragem, pela audácia e pela capacidade de seguir um sonho:conquistar o Mundo!

Pena é, que valores como a tolerância e aceitação da diversidade se tenham diluído com o tempo, aspectos que fizeram desta nação um ponto de referência e um exemplo de multiculturalismo.

Milagre de S. Francisco Xavier,Museu de Sao Roque©ETG 2009_02,Andre Reinoso,Portugal, 1619-22,Óleo sobre tela


Assim hoje quero deixar aqui o cartaz da exposição "Encompassing the Globe. Portugal e o Mundo nos séculos XVI e XVII", a não perder até dia 11 de Outubro no Museu Nacional de Arte Antiga.

Trata-se de um belíssimo conjunto de 200 obras deste período marcante da História Portuguesa, num espaço muito agradável, desde Cartografia, Marfins, Imaginária, Desenho, Gravura, Escultura, Pintura, Plumária até à Ourivesaria, decididamente para os amantes da História.